Tratamento de Pele Animal versus Peles Sintéticas - Por: Cássio de Fernando

Tratamento de Pele Animal versus Peles Sintéticas - Por: Cássio de Fernando

 

Há tempos alguns colegas vêm trazendo a discussão sobre tratamento de pele animal. Há alguns esforços de percussionistas em procurar dar soluções para aumentar a vida útil das peles naturais (animais) de congas e bongôs, reunindo artigos sobre isto na internet. Mas são raros de encontrar, com poucos falando sobre isto.

 

 

No entanto, penso que a dica é até mesmo dispensável. Esta é a minha tese e explico o motivo. A minha hipótese é que tratamento de pele de couro animal não gera vantagens, e sim inconvenientes, não compensando tal prática, já que existem outras opções para o percussionista profissional. E mesmo para amadores, tratamentos de pele são desnecessários.

 

Não raro, encontrei alguns colegas se queixando que estavam com a mão suada e toda ensebada no final do show devido ao tratamento de pele que fizeram, com azeite-de-dendê e/ou outras fórmulas mágicas. Não é para menos! O que conseguiram foi uma pele animal com sua vida útil já por expirar, em estado de rompimento das fibras e, de quebra, sujar as mãos, algo nada conveniente para os palcos (geralmente, o percussionista também usa baquetas nos outros instrumentos do seu set up...imagine como é desagradável, para dizer o mínimo, pegar uma baqueta com a mão toda ensebada por ter tocado suas congas ou bongôs com suas peles pseudo-tratadas). Sem mencionar o fato de que tais peles não vão retroceder de seu desgaste pelo uso por simples tratamento (daí o uso da expressão "fórmulas mágicas").

 

Em suma, para você que procura um modo de tratar pele animal, recomendo que esqueça isto. Se você é profissional, vai exigir o melhor desempenho do teu trabalho e dos instrumentos que possui. Portanto, se a pele animal do teu tambor não mais atende ao que procura em termos de funcionalidade e sonoridade, simplesmente troque a pele.

 

Para além da questão de tratamento da pele de couro animal, está o problema de ter a vida útil delas reduzida pelas ações do tempo. Se o caso é estritamente pelo fato de que você está cansado de ter que desafinar a pele após tocar seus tambores e, novamente e a cada show, ter que afiná-las (realmente, isto é muito chato), já que não dispõe de equipe técnica responsável por estas funções, cabendo a você este trabalho regular, então, recomendo que adquira peles sintéticas e se livre da questão da variação climática.

 

 

Peles sintéticas são feitas de 2 ou mais camadas coladas de material como poliester, feitas a partir de polietileno e outros materiais industrializados, como o denominado "Tyvek", para dar espessura. Com estes tipos de material, fabricantes como a REMO conseguem desenvolver peles que atendam a exigência e características de determinados instrumentos, como peles com sistema de controle de harmônicos indesejáveis, peles hidráulicas, porosas, lisas etc. Como estamos falando aqui de peles de congas e bongôs, vamos nos limitar portanto às peles Nuskyn e Fiberskyn, que têm a vantagem de diminuir consideravelmente o problema da ação da mudança de tempo, que antes as peles de couro animal estavam sujeitas.

 

A pele Fiberskyn, por exemplo, foi desenvolvida para dar a maior semelhança possível desta pele sintética com relação à pele de couro. Reproduz-se a textura e o timbre do que seria uma pele de couro convencional, mas com a vantagem de uma pele sintética. Consegue-se slaps agudos e som encorpado. As peles Nuskyn , por sua vez, dentre várias vantagens, valorizam também os médios e graves dos open tones. Enfim, na minha opinião, as vantagens de se ter uma pele sintética são muitas, inclusive poupar-se do trabalho e preocupação com o desempenho de uma pele convencional de couro animal, poupando o tempo e a paciência do percussionista.

 

 

Por fim, é preciso acrescentar um ponto que não foi abordado acima: e para percussionistas que não possuem instrumentos com medidas padronizadas para adequar tais peles sintéticas, ficando reféns de peles de couro animal de qualquer jeito? Realmente, tem percussionista que possui congas e bongôs, bem como outros instrumentos como djembês, pandeiros etc, de marcas não famosas e muitos até gostam de instrumentos artesanais, sem padrões etc. Muitos destes instrumentos possuem timbres interessantes e são ótimos, aliás! Eu mesmo possuo um tambor batá (ocolonco) vindo de Cuba (provavelmente pra "turista ver", ou o que eles costumam chamar de "tambor profano").

 

Mesmo assim, como já afirmei, se a pele não atende mais às exigências mínimas de sonoridade e estão desgastadas, troque-as por outra pele animal e pronto. Invista no teu trabalho, ao invés de procurar economizar sem ter retorno real com estes procedimentos de tratamento. No mínimo, é uma postura mais profissional pra quem deseja fazer da percussão um meio de vida, não sendo apenas um hobby para muitos. Mas se, pelo contrário, for considerado apenas um hobby para algum percussionista, nem mesmo a questão da sonoridade deve passar pela cabeça, sendo dispensável tal preocupação: como diria um amigo, "pra quem é, está de bom tamanho"!